Andrômeda
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Gaius Drummond
Gaius Drummond
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Data de inscrição : 26/01/2021

Traumas - Gaius Drummond  Empty Traumas - Gaius Drummond

Sex Fev 05, 2021 9:39 pm
Gaius Drummond

Estava escuro e frio, um breu terrível. O local onde estava não tinha começo nem fim. O céu negro e enfurecido lançava uma forte tempestade sobre a terra. Uma terra quase inexistente, pois o chão estava molhado e o nível da água parecia aumentar aos poucos. Raios iluminavam o ambiente em alguns momentos com uma luz branca com tons de azul, mas logo a escuridão voltava. Gaius caminhava sem rumo, seu termo encharcado ficava grudado ao seu corpo, seus sapatos haviam sumido. Uma luz laranja surgiu no horizonte. Era um barril de ferro incendiado. As chamas dançavam na chuva, mas as gotas de água não as apagavam. O Senador foi aproximando-se a passos lentos. Sons emergiram das trevas enquano isso. Tiro, gritos, sirenes e centenas de vozes. A cada passo que dava os sons aumentavam, então começou a correr em direção ao barril, o mais rápido que pôde, porém nunca chegava perto o bastante pra alcançá-lo. Chegou a um ponto em que os barulhos pareciam estar dentro de sua cabeça, a partir daí pessoas surgiram do chão inundado. Homens, mulheres, crianças, idosos, todos mortos. Sentiu um calor e se deu conta que estava a frente do barril incendiado. Logo o fogo apagou-se e o frio voltou. Gaius fechou os olhos para que tudo aquilo acabasse, quando os abriu novamente encontrou A Profeta à sua frente. Parada, calada e com um semblante sério, seu vestido estava manchado de sangue na altura da barriga. Ela tocou em seu ombro e guinchou "Luz da Manhã", depois virou-se para a esquerda e apontou para um lugar iluminado com um pequeno círculo de luz branca, uma menina ensanguentada agonizava no chão. Era Violety, Gaius foi até ela, agachou-se e levantou a cabeça da garota.


- Me ajude, Senador - suplicou ela - por favor, não me deixe morrer aqui sozinha.

- Você não vai morrer - falava começando a chorar - Segure minha mão, vamos sair daqui.

- Não me deixe morrer - repetiu - Gaius, estou com frio... não sinto minhas pernas.

- Fique calma, Violety - olhou ao seu redor e o único ser vivo era A Profeta - Ei, me ajude aqui... ela está perdendo muito sangue.

- Você fez isso - a voz da velha fez um eco no local.

- Não, não fui eu! - rebateu.

- Foi sim, Gaius. Você sabe disso!

- Por favor... não.

- Você a matou - A Profeta estalou os dedos e então Violety sucumbiu. Seu corpo se transformava em pó, caindo na água entre os dedos de Gaius - Você matou todos eles! - sua voz agora era diferente. Uma mistura de vozes.

O Senador abaixou a cabeça e voltou a chorar soluçando. Um vento forte bateu em seu rosto e a Profeta soltou um grunhido, virando-se para ela, percebeu que a velha cega começou a se contorcer em movimentos anormais. Seu corpo começou a escurecer e a se deformar. Um grito monstruoso foi emitido de sua boca. Sua pele começou a se deteriorar e a cair. Logo não era mais a profeta que estava diante de Gaius e sim um ser mascarado com capuz.

- Quem é você?

- Eu sou todos e sou um. Eu era, sou e serei o que sempre fui. Passado, presente e futuro. E você, quem realmente é? Assassino! - disse a coisa.

- Pare com isso! - gritou o Senador, sem entender o que seria aquilo.

- Hipócrita! - berrou - Renega quem você verdadeiramente é.
- Eu não sou um de vocês! - Procurou algum objeto para jogar no ser espectral mas não encontrou, depois tapou os ouvidos.

- Você é e sabe disso, Gaius Drummond! Todas essas pessoas... - ergueu os dois braços e todos os corpos que estavam boiando se levantaram, encarando o Senador - ...estão mortas por sua culpa! Suas escolhas! Seu governo! Olhe nos olhos deles, covarde! Nenhum deles têm culpa do que você passou em sua infância. Egoísta!

- Cala a bocaaaaa! - gritou.

O chão estremeceu e dez hastes metálicas ascenderam. Tinham cerca de 4 metros de comprimento e 30 cm de diâmetro com pontas iguais as de lanças. Elas flutuavam na vertical em volta de Gaius, que agora sentia raiva do ser mascarado. A criatura soltava uma risada maligna, como se estivesse instigando que o Senador fizesse aquilo. Gaius levanta seu braço apontando para ele, as hastes metálicas giram e ficam posicionadas na horizontal com as pontas direcionadas para o mascarado. Com um rápido movimento de mão elas avançam e o atingem, perfurando-o em vários locais. Nenhum tipo de sangue jorrou, ao invés disto, o espectro evaporou. Um estrondo irrompeu pelo ares e...

Gaius acorda assustado, estava suando frio e sua cabeça doía. Ao contrário da noite anterior o dia amanhecera calmo, mas nublado. Uma faixa de luz passava entre as cortinas e iluminava seu quarto, bagunçado. Estava deitado no tapete ao lado da cama, tentou levantar-se mas não conseguiu. Olhou ao redor e notou garrafas de whisky espalhadas pelo cômodo. Não se lembrava de quase nada do dia anterior. Haviam roupas espalhadas pelo quarto todo e livros também, sua televisão estava caída no chão. Algum aparelho de som em seu quarto tocava Spanish Sahara. Fechou os olhos e esperou a música acabar para só depois se mover.

- Ah, merda! - pegou o relógio para ver as horas. O ponteiro marcava 13:28h - Por Deus, quanto tempo eu dormi?

Exausto e de ressaca, engatinhou até o pé da cama e a escalou pois não conseguia ficar de pé. Procurou seu celular entre os cobertores e não o localizou. Sentou-se e o visualizou na estante a alguns metros de distância.

- Vamos lá, primeira tentativa - Suspirou e como no sonho, esticou sua mão direita e mentalizou o objeto vindo até ele. O smartphone começou a vibrar e foi levitando aos poucos, segundos depois já estava a vinte centímetros do apoio da estante. Mais um movimento com a mão e o celular foi na direção de Gaius até pousar em sua mãos. Desbloqueou-o e notou centenas de mensagens lhe desejando uma boa recuperação do seu "atentado".

- O que eu faço da minha vida agora? - colocou as mãos sobre o rosto quando escutou um barulho vindo da cozinha - Quem está aí? Steve, é você? - perguntou, mas ninguém respondeu.

Andou cambaleando até seu guarda-roupa e pegou uma pistola. Abriu a porta do quarto devagar e desceu as escadas sem fazer barulho, atento e assustado, devido ao trauma, escorou-se na parede já no andar de baixo e olhou rapidamente para a direção da geladeira, viu uma mulher de costas. Ficou aliviado, era Mônica. Ela cozinhava no fogão.

- O que está fazendo aqui, Mô?

- Ora, cuidando de você, Magnus - disse ao notar a presença do seu amante. Chegou perto e deu-lhe um beijo na testa - Steve não queria deixar eu ficar, porém tu não quis ir para a casa de seus pais e quando entrei aqui te encontrei estirado no chão, bêbado. Dois dias bebendo sem parar e chorando pelos cantos da casa.

- Eu, bêbado? Não me lembro disso? - acendeu o resto de um cigarro que estava pela metade em cima do balcão e encheu um copo com whisky, bebendo tudo num gole só.

- Bêbado e fumante - ironizou Mônica - as duas coisas que mais odeio - arrancou o cigarro e o copo da mão de Gaius.

- Ei, me devolva isso - tentou pegar de volta mas não conseguiu.

- Não, Magnus! Chega dessa palhaçada. Anime-se agora.

- Palhaçada, Mônica? - irritou-se - Você não sabe o que eu vi! Não sabe o que eu sinto! Não sabe!

- Eu sei o que eu vejo! E no momento vejo um homem depressivo, esperando que um milagre apareça pra lhe salvar - ela aproximou seu rosto do rosto dele e segurou com as duas mãos - Gaius Magnus W. Drummond, olhe para mim e me escute, somente você pode se salvar, faça com que isso ocorra.

Os dois se beijaram por um longo momento. Gaius previsava daquilo. Daquele calor humano. Sabia que Mônica nunca seria dele, e também não desejava isso. Entretanto a mulher o confortava.

- Alguém deixou algum recado? - seu rosto ainda encostava no dela.

- Sua mãe ligou... disse que Gowbbs irá se reunir com seu pai as 15:00h, ela queria que você fosse. Expliquei que você estava um pouco ruim e que talvez não iria.

- Tenho que ir, Mô. Preciso saber o que ele vai dizer. Vou me arrumar.

- Volte para almoçar, preparei algo especial pra você - deu uma piscadela.

- Com certeza voltarei. Estou morrendo de fome.

Subiu novamente para o segundo andar e foi para seu closet. Para sua surpresa também fora bagunçado. Bolinhas e barras prateadas espalhavam-se pelo carpete. Um grande livro jogado ao chão estava aberto numa página que dizia:

"Eletromagnetismo é a área da física que estuda os fenômenos relacionados à eletricidade e ao magnetismo de forma unificada. Ele utiliza como base o conceito de campo eletromagnético, descrevendo a relação entre os dois campos em separados, bem como combinando-os. O eletromagnetismo se baseia nos princípios de cargas elétricas e variação de fluxo magnético. As cargas elétricas em movimento geram campo magnético e a variação do fluxo magnético produz campo elétrico. O campo magnético surge a partir do movimento de carga elétrica, pois ele é resultado da corrente elétrica. Além disso, ele pode resultar de uma força eletromagnética quando ela se associar a ímãs. A variação do fluxo magnético resulta de um campo elétrico através da indução eletromagnética. De forma similar, a variação do campo elétrico causa um campo magnético. Uma vez que há uma relação de dependência mútua entre os campos, fala-se em campo eletromagnético".

- Que merda eu fiz ontem? - observou as bolinhas e lembrou-se da caneta que movera, do sonho com as hastes metálicas e do celular pela manhã - Uma segunda tentativa, talvez... - Novamente abriu a palma das mãos e mentalizou as bolas e barras prateadas sendo guardadas em um gaveta. Mais esforço foi necessário. Os objetos flutuavam no ar indo de um lado para o outro, desajeitados. Rodavam como se não ouvesse nenhuma gravidade, Gaius abriu um sorriso. Aquilo era magnífico. Surreal. Uma por uma, as bolas e barras entraram enfileiradas na gaveta e no final ela se fechou.

Mesmo impactado, vestiu-se rapidamente para ir a Mansão de seus pais. Depoi de se arrumar, ou tentar, pois não arrumou seu cabelo e haviam olheiras em seu rosto, desceu para almoçar. Derley foi lhe buscar, no caminho viu uma garotinha de cabelos vermelhos brincando na rua. Lembrou-se de Violety, que morrera por sua culpa. Negava isso, mas no fundo sabia que era verdade. "Matei todos eles". Uma lágrima escorreu por sua bochecha. Meia hora depois chegou até a casa de seus pais pora volta das 15:20h. A Mansão era um terço maior do que a sua. Era um grande casarão de arquitetura barroca, tinha três andares e um grande jardim com uma fonte na parte de frente. Nos fundos havia uma piscina, um campo de golfe e um heliporto. Entrando na mansão, encontrou sua mãe sentada no sofá, Augustus estava numa poltrona e a sua direita, em outro sofá, estava Joseph Gowbbs. Impávido, calado, observador e acima de tudo, cruel.

- Meu filho, que bom que chegou - Melanie Drummond foi até ele e lhe abraçou - ah, querido, você não está bem, olhe sua aparência. Falei para ficar um tempo aqui em casa, mas tem a cabeça dura igual ao pai. Sente-se ali ao meu lado.

Sentou-se ao lado da mãe, cumprimentou o pai, Gowbbs e os quatros homens que o acompanhavam. Um destes homens era um rosto familiar, major Mikkel Grives, o homem que comandou a operação no dia do massacre na antiga fábrica Halley. Um empregado ofecereu chá, mas o Senador preferiu pediu um pouco de vodka. Bebeu dois copos de uma vez e deixou o terceiro para tomar durante a reunião.

- Caro Gaius, como é bom ver que está bem e seguro agora - comentou o líder do PNV com uma xícara de chá entre as mãos - Sequestros deste nível com gente do alto escalão não costumam acontecer. Só demonstra a vulnerabilidade em que Venuza se encontra. Algo deve ser feito.

- E será - complementou o pai.

- Um passo de cada vez, Augustus. Definiremos o processo primero - Gowbbs depositou sua xícara na mesa de centro - Não acho que Emma esteja com a plena capacidade de continuar governando. Ela fracassou em todas as suas propostas e promessas. Enquanto endurece as punições para quem é contra os super-humanos, estes monstros tem uma vida cada vez mais fácil.

- A presidente faz tudo que estar em seu alcance - interveio Gaius - Esta culpa não é somente dela.

- É claro que essa culpa não recai apenas sobre ela. Os Liberais podem ser classificados como os principais causadores disso tudo. A vadia loira é um fantoche.

- Não fique dando nó em suas falas, Joseph. Se está tentando derrubar a Presidente Emma, saiba que não terá meu apoio - virou o copo - mais vodka.

- Não se agarre ao seu partido, Gaius. Você acima de tudo sabe o que é sofrer nas mãos das aberrações, acaba de sofrer um atentado contra sua vida - justificou Gowbbs - É necessário que nós façamos alguma coisa. Unidos para o bem comum.

- Não há aliados o suficiente no Senado. Fazer isso agora só enfraquecerá o Governo e o deixará vulnerável para mais ataques dos Anômalos.

- Teremos sim aliados, filho - falou Ausgustus - Major Grives tentará buscar a ala militar para nosso lado.

- Senador Gaius - começou Grives - a solução mais fácil é botar Joseph na presidência. Tem que resolver essa porra de uma vez, ter um impeachment ou um golpe de estado. O governo tem que mudar pra estancar a sangria. Com a Emma não dá.

- Não acho que isso seja viável...

- É um acordo, botar o Gowbbs. Um grande acordo nacional - falou um dos três homens que Gaius não conhecia.

- Com os militares, com tudo. Aí parava todas as medidas, ia delimitar os super-humanos.

- Vocês estão cegos por poder - levantou-se da poltrona para ir embora.

- Espere - Chamou Gowbbs - Se me apoiar e trouxer o centro para minha base, eu lhe darei um Ministério, Gaius. Pense nisso.

- Não serei seu mártir, Joseph. Já coloque isso na cabeça.

- Não faça suas escolhas usando a emoção. Raciocíne. Estou falando de um Ministério.

- Quando estiver na Presidência e quiser manter o PRV sob controle, nós conversamos. Ao contrário disto não conte com minha ajuda. Pai, mãe, senhores - fez um breve aceno com a cabeça e saiu estressado da sala.

"Ridículos. Emma precisa saber dessas coisas, mas não posso colocar minha mãe e meu pai em perigo. E nem eu ou meu partido. Terei que negociar".

Traumas - Gaius Drummond  E8da1710


Música triste que tava tocando no começo do texto pra vocês chorarem:



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