Sujeira no Congresso - Gaius Drummond

Qui Fev 25, 2021 12:11 am

Gaius Drummond - Parte I

Estava exausto. No dia anterior havia libertado Luz da Manhã, que até agora não entrara em contato, e muito provavelmente nem entraria mais. Tentava voltar a sua rotina, a luxuosa e boa vida de um político, e que agora tinha poderes, embora ninguém soubesse. Andava pelos corredores da Fortaleza Venezuana, trajava um terno preto com uma gravata azul. Cantarolava quando avistou sua colega de trabalho e agora nova braço direito, senadora Layla.

- Bom dia, Senador Gaius - cumprimentou Layla Foldier. A senadora usava uma roupa social feminina da cor azul petróleo. Trazia consigo um notebook e uma pasta preta debaixo do braço.

- Bom dia, Layla. Como estão indo o nosso progresso no PNV?

- Conforme o planejado. O processo de readaptação à nova realidade pode demorar um pouco, mas não temos nenhum grande obstáculo. Podemos conversar em um local mais reservado, senador?

-

É claro, Layla! Venha comigo - Gaius caminhou rapidamente até seu gabinete com a senadora o seguindo.

- Steve, estarei com a senhorita Layla Foldier na minha sala, caso me procurarem diga que estou em reunião e não posso atender no momento. Se eu demorar, remarque qualquer compromisso para mais tarde. - pediu para seu assessor ao entrar no gabinete.

- Ok. Estarei aqui na minha mesa se precisar de mim - confirmou Steve.

Gaius entrou em sua sala e puxou uma cadeira para que Layla se sentasse. A moça se sentou, colocando a pasta preta na mesa e ligando seu notebook.

Aceita alguma coisa para beber? - ofereceu - Temos café, chá, suco ou um água, se preferir.

- Apenas um chá, por favor. Serei breve - o senador colocou um pouco de chá em uma xícara e depositou ao lado da mulher, depois sentou-se no outro lado da mesa, ficando de frente para ela. - Obrigada, querido. - bebeu um gole e pigarreou.

- E então, o que têm para falar?

- Conforme você solicitou, pedi para que meus assessores fizessem uma investigação em cada membro remanescente do partido. Tivemos ajuda do órgão investigativo do Estado, porém isso é extra-oficial - começou - Coletamos informações sobre seus passados, suas propostas, e-mails, telefonemas, seus amigos, por quem eram financiados e mais alguns detalhes importantes. Não achamos nada demais com a grande maioria que tinha ética o suficiente para permanecer, acredito que realmente eram inocentes, mas temos algumas provas que irão lhe chamar bastante a atenção. Eu vim até aqui pessoalmente porque não quis que ninguém soubesse.

- Continue - Gaius ajeitou-se na cadeira e colocou seus cotovelos apoiados na mesa, com as mãos debaixo do queixo.

- Um dos nossos investigados é Tom Harold, Gaius. Temos provas contundentes para incriminá-lo.

- O presidente do Congresso Federal? - esboçou uma clara expressão de surpresa, mesmo já tendo conhecimento que o senador Harold sendo um completo boçal inútil.

- O próprio, Gaius. Vou te mostrar as provas que coletamos - virou a tela do notebook para o senador, entrando em alguns arquivos. - Ele soube esconder muito bem, mas nada impossível de encontrar - deu play em um vídeo - Este vídeo foi gravado em 28 de agosto de 2058 para uma reportagem enquanto combriam uma convenção no Estado de Touro. Aqui, neste canto do vídeo, podemos ver Tom conversando com Arden e um tenente da polícia militar de Andrômeda.

As gravações eram de uma entrevista sobre uma senhora que havia feito uma grande doação para uma instituição de caridade que participava da convenção. No canto esquerdo das imagens era possível ver o senador Harold, Arden e o policial conversando sozinhos em uma mesa separada das demais. Assim que notaram as câmeras apontadas em suas direções pareciam tentar disfarçar.

- Isso não prova nada. Arden é um homem conhecido e poderoso. Todos queriam um gostinho dele pra se beneficiar.

- O vídeo em si não prova nada, eu sei, mas sim o que aconteceu logo depois. Três dias após as filmagens, Grives, o policial presente no vídeo, foi elevado à major da Elite de Caça, a pedido do próprio Arden. A nomeação está registrada no Diário Oficial da União do dia 31 de agosto de 2058.

- É o mesmo homem que comandou a operação ao seu resgate...

- Ele mesmo. Tom e o major da Elite são amigos de longa data. Há dois dias o senador Harold foi visitar Grives na prisão, porém pediu sigilo, e em sua agenda estava marcada um reunião com Ambar Taylor, sócia da empresa de tecnologia AmbarTec. Entramos em contato com Ambar e ela negou que tivesse marcado qualquer tipo dereunião com Tom.

- Se vazadas, estas informações podem causar um tremendo desconforto no Senado e nas instituições do Estado. Isso pode-se enquadrar em abuso de poder e tráfico de influência. Entretanto, não creio que os parlamentares levarão isso adiante. São um bando de covardes.

- Ainda não terminei, Gaius. Tem muito mais lama.

- Prossiga.

- Lembra do filho de Tom?

- O garoto que ficou preso duas semanas há mais de um ano por ter sido achado com drogas no centro da cidade?

- O próprio. Drogas... sim, isso foi o divulgado na época. Josh Harold, 23 anos, filho de um político podre de rico, preso por drogas? Nada disso. Tivemos acesso aos relatórios do caso, Gaius. Está aqui, pegue a cópia. - abriu a pasta e entregou um montante com cerca de cinquenta páginas ao senador - O garoto tinha ligação direta com aquele grupo de segregacionista auto-intitulados Purificadores da Nação. Além do relatório temos fotos dele com outros membros do grupo. Veja, posando com armas, pixando muros com frases genocidas e fotos em supostas reuniões. Acessórios usados para espancar super-humanos também foram encontrados em sua casa e até mesmo uma arma de uso restrito que era de exclusividade apenas para Elite de Caça.

- Desviada pelo senador Tom...

- Exatamente. E através do?

- Major Grives. - deu um tapa na mesa - Isso é incrível pra nós!

- Na página trinta e sete do relatório consta a possível participação de Josh Harold no assassinato da família-super de moradores de rua que ocorreu em 25 de novembro de 2057.

- Moradores de rua? Não estou me lembrando deste caso.

- A família Milles. Pai, mãe e três filhos que moravam debaixo de um viaduto e que foram encontrados carbonizados e com sinais de tortura.

- Ah, lembrei-me agora. Noticiaram na época que foram queimados ainda vivos. Houve protesto na época e muita indignação popular, mas logo saiu da mídia.

- Estranhamente logo saiu da mídia, você quis dizer. Dois participantes do crime, Caio Glatz e Marcelo Ishida admitiram que Josh também era um dos executores da família. Josh foi interrogado, falou que estava em outro local no momento do crime, mas seu depoimento tinha muitas divergências, mesmo assim, como não havia nenhuma prova concreta ele nunca respondeu em específico por isso e todo seu envolvimento permaneceu sob segredo de justiça. É muito conteúdo sujo. Com tudo isso podemos acabar com Tom.

- Podemos destruí-lo.

- Tome. Fique com os conteúdos e leia com mais calma. Tenho alguns compromissos agora e retornarei mais tarde para finalizarmos.

- Assim que ler eu lhe retorno para definirmos os próximos passos. Irei levar isso para Sarah e pedirei que ela entre em contato imediatamente com a Presidente Garden. Exigirei a exoneração de Tom, Emma tem poder para fazer isso, e irei solicitar novas eleições para a presidência do Senado o mais breve possível. O país não pode ficar com um Legislativo à deriva. - levantou-se e caminhou até a porta junto com Layla - Obrigado por tudo. É muito bom saber que posso contar com você.

- Apenas estou retribuindo o favor que me fez, Gaius.

- Favores não precisam ser retribuídos. Até logo senadora Layla. - fechou a porta e sentou-se novamente em sua cadeira para analisar todos os arquivos que obtivera.

- Você que está lendo o texto pode achar que eu estou articulando um golpe, mas não, é apenas o meu dever como cidadão deste país e representante do povo denunciar qualquer tipo de ato ilegal no Congresso. Irei me beneficiar com isso? É claro, ao contrário eu não faria nada. Entretanto, tenha algo em mente, eu com certeza sou melhor que Tom Harold. Vá ler os outros posts agora. - voltou para a análise das fotos e dos relatórios.

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