NPC - O Fundo da Alma

Sex Ago 27, 2021 4:20 pm

O fundo da Alma

- Você pode se abrir conosco Antony.- A voz era de uma mulher. Um grupo de 8 pessoas se encontravam sentados em cadeiras, formando um círculo. Haviam 3 mulheres e 5 homens. Antony tinha cabelos castanhos, olhos azuis, barba curta e usava uma camisa xadrez. A mulher que falava com ele era a psicóloga Nora. De cabelos loiros, óculos, usava uma camisa branca e uma saia preta.

O ambiente era parecido com um auditório. Muitas cadeiras fechadas nos cantos da sala. O espaço era grande e suas vozes ecoam ao falar. Os demais esperavam pela vez de Antony.

- Tudo bem...- Dizia Nora ajeitando seus óculos com o dedo indicador direito.-...nós esperamos. Você não precisa se sentir pressionado, estamos aqui por que queremos estar com você.

O silêncio do lugar não durou muito. Antony apertava os lábios. Seus olhos eram tão claros que era de um azul quase gelo. Aparentava 30 anos. Esperou mais alguns minutos e assentiu com a cabeça.

- Oi pessoal, eu me chamo Antony, vocês já devem me conhecer, tem 5 semanas que compareço.

- Olá Antony.- Diziam todos da sala.

- Bem, minha história não é muito legal...

- 3 anos atrás-

Era verão, a temperatura variava de 27 a 33 graus. Antony usava uma regata branca e uma bermuda preta de moletom. Ao seu lado, uma mulher chamada Kayla, lindos cabelos escuros ondulados, e entre eles, um menino de 4 anos. Olhos do pai e cabelos da mãe. Ele corria pelos brinquedos de uma praça. Outras crianças também brincavam com seu filho. O casal sentou-se em mesas de churrasco que ficavam próximo do parque.

- Lava as mãos antes de comer filho.- Dizia Kayla sorridente. Antony a admirava quase que todo momento. Não demorou muito até que percebesse algo de errado.

Seu filho corria e logo parava. Caia se joelhos e com as mãos no chão, sua respiração estava fraca sua pele pálida.- Filho ?

- Harry?- Ambos correram até o menino.- Hey garotão, o que foi... respira...respira...

O Hospital não fica longe da li. 15 minutos de carro, foi o tempo que levou até lá. E 16 dias até terem o verdadeiro resultado. 22 dias depois, Harry estava com deitado em uma cama de hospital, com tubos de oxigênio e sem cabelo por conta da quimioterapia. Ao seu lado, Antony segurava sua mão quase que 24 horas. No corredor, Kayla gritava.

Em 1 mês, Antony e Kayla deitavam em sua cama de casal. Não se falavam. Apenas olhavam o teto. E assim foi por 4 ou 5 semanas. O homem sentia em seu peito uma pontada e em seu estômago uma bolha, não era física, era uma ferida na alma.

- Aaaah...!- Gritou o homem enquanto ia, dá sala, para o quarto. Ao seu redor, vidros dos quadros e espelhos se partiam. A parede tremia e o teto trincava.

- Continue, Antony.- A Psicóloga continuava ereta na cadeira. Uma das mulheres limpava uma lágrima que escorria pelo seu rosto. Ninguém dizia nada. Alguém limpava a garganta com uma tosse forçada e logo o silêncio caía sobre o auditório.

- No ano passado...

- 1 ano atrás -

- Alô.- Antony atendeu seu celular. Estava em seu escritório em algum prédio da cidade. A vista indicava ser bem alto, entre 20 a 30 andares acima do térreo.

-" Oi, Antony..."- Era a voz de Kayla.

- Amor? Aconteceu algo?

-" Sim, e eu queria me despedir, deixei aquele bolo que você gosta que eu faço na porta do seu escritório..."

- Espera! Espera! Do que está falando! Onde você está ?- Seu coração começou a acelerar. Antes que ela pudesse responder, Antony ligou a localização de GPS do celular de Kayla. O aplicativo indica que ela está no mesmo lugar que ele.- Kayla?

-" Por favor Antony, me perdoa."- Ao fundo da ligação, dava para ouvir muito vento.

- Merda!- Levantou rapidamente de sua escrivaninha. A cadeira de rodinhas caia para trás enquanto Antony corria para fora do escritório. Pegou o elevador mais próximo e subiu até o último andar.- Kayla!

A mulher estava no parapeito do prédio. Ela virou-se assustada, com os olhos chorosos e com uma mão mandando parar.

- Não se aproxime Antony!

- Kayla! Não faça isso!

- Eu preciso!- A mulher subiu no parapeito e pulou. Antes que pudesse cair, a mão de seu marido a segurou pelo pulso.- Antony!!!

- Kayla!!!

O vento estava intenso. Os pelos do braço de Antony arrepiam. Kayla ficava pendurada por uns segundos até conseguir olhar para seu marido.

- Por favor...me deixa ir...

- Não! Eu não vou conseguir viver sem você!- Seu rosto estava vermelho, tentando manter o peso dos dois.

- Eu já morri Antony...eu já morri há muito tempo...- Ela impulsiona com o pé para trás e se solta. Seu corpo caia, lentamente para Antony, rapidamente para Kayla.

No dia do funeral. Antony ficou na igreja até todos irem embora. Sentado sobre os degraus, segurava uma foto sua, de seu filho e de sua mulher. Usava um terno preto com calça e sapatos sociais escuros.

- Te vejo em breve, amor.- Levantou. Seus passos até a saída eram leves e aquela "bolha" em seu estômago aumentou. Os bancos, o piso, o teto e as paredes da igreja começam a tremer levemente. Ao sair, uma das portas de madeira alta se parte no meio. Próximo a igreja, havia um campo de grama e mais ao longe a entrada de uma floresta em direção a Zona Rural. Seus passos escurecem a grama por onde passa. Chegou um momento que em meio a mata, caiu de joelhos. Seu peito estava inchado e seus lábios comprimidos.

- Kayla...AAAAAAAH!- Antony gritava enquanto o terno que usava se desintegra. As árvores ao redor envelhecem, o solo escurece e o céu acima ficava cinza.- AAAAAAAH....

Seu grito criou uma onda de devastação que destruiu toda aquela pequena zona de vegetação. Um buraco se formou ao seu redor e logo com o começo do choro, dava fim a destruição.

- Eu não consigo...

- E não consegui.- Dizia Antony no auditório para os outros. Estavam assustados, principalmente com a última parte da história.

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