Andrômeda
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Lucila Milus
Lucila Milus
Mensagens : 49
Data de inscrição : 26/01/2021

Expurgo dos Caçadores Empty Expurgo dos Caçadores

Qua Fev 24, 2021 8:32 pm
Era uma sala bastante bonita. Piso de madeira cumaru, paredes brancas iluminadas por luminárias de painel led com dois grandes quadros de estilo moderno na parede, um grande sofá em forma de L e duas poltronas, uma reclinável e outra rotacionável, no centro da sala uma mesa circular de vidro esverdeado e uma TV de 64 polegadas presa na parede com uma bancada embaixo com aparelhos e uma secretária digital redonda, além de alguns porta-retratos com fotos antigas de uma família, um pai, uma mãe e quatro irmãs.  

Lucila estava sentada na poltrona rotacionável esperando. Vestia-se completamente de preto, calças sociais e botas altas de couro com um pequeno salto, um sobretudo inglês com gola alta e luvas de couro, o cabelo castanho avermelhado estava preso em um rabo de cavalo alto e usava óculos escuros que escondiam as cicatrizes ao redor de seu olho esquerdo. Degustava de leve um vinho doce tirado da adega na cozinha, rodava a taça em seus dedos.

Um barulho de ferrolho a avisou que a porta estava sendo aberta. A porta se abriu e uma mulher entrou carregando uma sacola de compras, aparentava ter por volta de 30 anos, cabelos loiros curtos em um corte antiquado, grandes óculos de sol redondos, camisa rosa com uma jaqueta de couro por cima, calça jeans e um salto alto dourado, além de uma bolsa simples, mas elegante. Senadora Cristina Taylor, do PNV, uma política novata e não muito influente. Ela soltou a sacola no chão ao ver Lucila dentro da casa dela.

— Nem pense em reagir, senhora Taylor. — Lucila disse puxando de dentro de seu sobretudo o distintivo da AVIS — Investigação oficial, estou aqui para colher seu depoimento, temos motivo para acreditar que a senhora tenha informações sobre a Elite e a caçada.

A mulher ficou paralisada por alguns segundos sem saber o que fazer.

— Acha que pode simplesmente invadir minha casa? Siri, ligue para a policia. — a senadora Taylor disse com a voz meio tremida, mas ainda tentando imprimir confiança. Não teve reação alguma da secretária eletrônica.

— Não adianta tentar usar a secretária, eu desliguei ela assim como qualquer aparelho na casa capaz de reconhecer sons. E eu não acho senhorita, eu posso. Poderia se sentar? — Lucila ainda disse calmamente, apontando para o sofá. A senadora se recusou e Lucila arrumou os óculos antes de continuar. — Por favor, não gostaria de ter que usar a força.

Cristina Taylor sentou-se com receio.

— Eu não tenho nada haver com os laboratórios.

— Não se preocupe com isso, senhorita. Você é uma jogadora recente, está fora de nossa lista de suspeitos por enquanto, entretanto nos veio a conhecimento que nos últimos meses você participou de reuniões privadas com membros mais antigos e relevantes do partido, com a citação especial a senadora Layla Foldier. Acreditamos que possa nos ceder informações vitais sobre os conteúdos dessas reuniões.

— Essas eram reuniões privadas, como você mesma disse agente. Eu não posso revelar o conteúdo delas, nem você pode me obrigar a isso, a lei protege o direito à privacidade, mesmo de políticos.

— Não peço que me conte sua intimidade, mas também não em trate por idiota. É obvio que assuntos de estado foram discutidos nessas reuniões e esses assuntos são vitais para nossas investigações. Tenho que pedir que reconsidere, estou aqui querendo te ajudar também.

— Me ajudar?

Lucila tirou duas fotos de dentro de seu sobretudo e as colocou na mesa, mostravam de longe duas mulheres bastante parecidas com a senadora.

— Ouvimos uma série de boatos de que grupos resistentes da Elite de Caça estão planejando atentados contra os familiares de membros do seu partido como vingança por terem mudado de lado. Suas irmãs são alguns dos alvos que identificamos, se você cooperar conosco eu posso garantir a proteção delas, se não... — Ela disse com a voz perfeitamente calma se reclinando na cadeira, nem se preocupou de olhar para a cara da senadora.

Conseguia sentir o olhar de raiva e indignação da senadora mesmo tendo desviado o rosto, a hesitação dela também era palpável.

— O que quer saber? — A senadora até tentou esconder, mas o medo estava claro em sua voz.

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Lucila saiu pela entrada do prédio, uma grande porta de vidro em frente a um salão amplo e bonito que dava em uma avenida movimentada, o sol estava se ponto no horizonte pintando o céu em um tom alaranjado que realçava o vermelho do cabelo de Lucila. Estacionado na frente do prédio um carro esportivo preto a esperava, um homem alto de pele queimada e bastante gordo parado na frente dele, vestido com um terno largo azul, gravata listrada azul clara e preta, sapato social e uma boina verde musgo, o rosto grande coberto por uma barba curta escura.

— Senhorita Lucila. — O motorista disse com voz grave quando ela se aproximou e abrindo a porta do banco traseiro para ela.

— Você é meu motorista, Micha, não meu servo. Não precisa abrir a porta para mim. — Ela respondeu, entrando e sentando no banco acolchoado.—Me leve até a Fortaleza Venezuana, tenho uma reunião marcada para daqui uma hora.

Micha entrou no banco do motorista e não perdeu tempo, engatou a primeira e entrou com facilidade na avenida.

— O trânsito está bem pesado hoje. — Ele disse demonstrando preocupação.

Lucila olhou pela janela de vidro esfumaçado do banco traseiro, do lado de fora as várias vias estavam todas ocupadas e avançando lentamente. O céu estava coberto e mais para a frente era possível ver alguns raios caindo, não ia demorar para a chuva chegar até eles. Pegou um celular de dentro de seu sobretudo e o ligou, ativou um aplicativo que embaralhava e criptografava a comunicação e escreveu uma mensagem: Conseguiu alugar a casa? Não vamos ter como adiar muito mais a “destruição” do antigo maquinário da Elite de Caça. Taylor confirmou nossas suspeitas quanto a Howard F. Johanes e seus sócios, nós já embargamos uma tentativa deles de fugir, não podemos dar outra chance.

— A senadora vai compreender. — Lucila disse para o motorista depois de mandar a mensagem.

O resto da viagem foi tranquila e quieta. Por seus anos de experiência Micha conseguia ler com facilidade os tipos de passageiros em seu carro, quais gostavam de conversar sobre casualidades, quais gostavam de desabafar, quais assuntos trazer a tona e quais não... Lucila era uma cliente fácil de agradar, nada de conversas e uma boa música tocando era tudo que precisava. O rádio tocava uma música em alemão: “Darum hasse deinen Nächsten wie dich selbst. Denn das Schönste hier auf Erden, Ist hassen und gehasst zu werden“.

Já tinha anoitecido quando chegaram a Fortaleza Venuziana. Lucila subiu pelas escadas até chegar ao antepenúltimo andar, uma subida cansativa. Os últimos andares da Fortaleza eram destinados aos membros mais importantes de cada partido e o antepenúltimo pertencia ao PNV, ela bateu em uma das portas que foi aberto por uma secretária, apenas tirou o distintivo e mostrou para ela que a deixou entrar. Lá dentro uma mulher a esperava, usava um vestido violeta claro que ia até seus joelhos e um casaco de peles que cobria seus ombros. Era uma mulher vaidosa, seus cabelos ruivos e ondulados refletiam a luz das lâmpadas. Exalava um doce aroma de seu perfume francês. Senadora Layla Fontier, líder do partido, se levantou e foi comprimenta-la.

— Senhorita Lucila, o que trás a diretora de operações da AVIS até meu gabinete? — A senadora disse a cumprimentando e se sentando em frente a sua mesa, Lucila sentou de frente a ela.

— Receio que não sejam boas notícias, senadora. — Lucila disse com a voz calma.  — Alguns dos depoimentos que colhemos nos últimos dias apontaram que a senhora estava envolvida em uma série de reuniões em busca de doações e apoios para o partido, considerando a proximidade da alta cúpula do PNV com a Elite de Caça isso te coloca como uma possível financiadora da Elite envolvida em uma série de crimes.

— Ninguém pode me acusar de algo tão grande baseado apenas em depoimentos incertos que nem fazem a acusação diretamente, são provas sem materialidade e facilmente contestáveis. — Layla respondeu com convicção, mas Lucila percebeu o desconforto dela com o assunto. — me surpreende que o AVIS esteja tão desesperado ao ponto de tentar usar isso como base de uma acusação.

— os depoimentos não servem para uma acusação, mas servem perfeitamente para justificar uma investigação mais minuciosa para cima de você e de seus aliados mais próximos. Uma investigação sobre a cúpula interna agora seria péssima para seu partido já desestruturado. Entretanto, como disse, os indícios são fracos e de pouca materialidade, uma demonstração de boa fé seria o bastante para garantir que não seja necessário chegarmos a tanto.

— Boa fé? Eu não vou me envolver em um esquema de corrupção por causa das ameaças de uma novata.

A senadora a encarava com um olhar furioso, Lucila quase riu, mas conseguiu se controlar.

— Eu não quero seu dinheiro, senadora. Tudo que eu peço é acesso aos patrocinadores das campanhas que seu partido realizava até o “expurgo”. A legislação atual prevê que a sigilo das contas de campanha dos políticos só podem ser quebrados com aprovação do senado ou sendo voluntariamente cedida. Nós podemos levar isso para o senado e transformar isso numa batalha judicial ou você pode me ceder os arquivos e todos saímos felizes.

— Eu não acho que seja legal eu revelar os patrocinadores das campanhas de outros políticos, se for descoberto que eu fiz isso poderiam me abrir um processo administrativo por interferência no sistema jurídico, por interferência indevida no mercado, por uso indevido dos poderes políticos, em suma, não. Se quer tanto a informação, por que não foi perguntar diretamente para os envolvidos? Eles estariam felizes em aceitar qualquer acordo e ainda seria algo perfeitamente dentro da legalidade.

—É ilegal de sua parte revelar os patrocinadores diretos de cada senador, mas as campanhas gerais do partido, que não são vinculadas a nenhum senador em específico, são responsabilidade da diretoria do partido, que no caso está em suas mãos, tornando perfeitamente legal que me revele esses dados. Estou pedindo que facilite para nós duas, não que quebre a lei, me entregue de boa vontade apenas aquilo que eu poderia receber caso levasse a investigação para o senado.

A senadora ficou ponderando por alguns segundos, a determinação e ferocidade em seus olhos não conseguiram durar tanto.

— Tudo bem. Enviarei um relatório contendo os registros dos doadores das principais campanhas do período em que a Elite de Caça estava ativa, mas não tocarei em nada posterior a isso.

— Muito obrigada. — Lucila se levantou e estendeu a mão para a senadora, que relutantemente a aceitou. — Mande lembranças ao senador Gaius por mim.

Lucila desceu as escadas da Fortaleza sem pressa. “Layla foi mais branda do que eu esperava, talvez seja por isso que logo ela foi escolhida por Gaius”, ela puxou o celular e mandou uma mensagem para o rei agradecendo pela ajuda que ele tinha dado ao explica-la as leis de Venuzia e feito o argumento nessa área. Saiu da Fortaleza, do lado de fora as estrelas iluminavam o céu junto com os feixes de luz vermelhos e amarelos dos carros atravessando a rodovia em alta velocidade, Micha estava parado em frente ao carro preto olhando para baixo e fumando, meio tenso e irrequieto, mas disfarçou quando Lucila se aproximou.

— Essa é a última corrida do dia, prometo. — Ela disse amigavelmente e entrou no carro. — Me leve para casa.
Lucila Milus
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Expurgo dos Caçadores Empty Re: Expurgo dos Caçadores

Sex Fev 26, 2021 8:47 pm
O carro preto luxuoso parou em frente a uma casa comum da periferia de Andrômeda, talvez um pouco maior do que o normal para a região. O sol estava se pondo, chovia de leve e o barulho dos pingos constantes nos tetos de telha era um pouco irritante, Lucila saiu do carro sozinha escondida dentro de seu sobretudo negro para não se molhar sem necessidade. Aproximou-se da porta e tocou a campainha, nenhum barulho saiu.

Após alguns segundos a porta fez um pequeno barulho metálico e Lucila a abriu e entrou na casa em uma sala arrumada com um sofá simples meio rasgado, uma TV comum desligada, uma luminária no teto e um espelho na parede além de muita poeira branca no chão e duas portas, uma de cada lado da sala. Uma das portas se abriu e um homem entrou, tinha cabelo loiro escuro bagunçado e longo, olhos verdes bastante escuros e se vestia como um morador comum, camisa preta e calça jeans, ambas cobertas pela poeira branca.

— Um pouco atrasada Luci. Achamos que ia perder a estreia. — O homem disse bem humorado a fitando.

— Os Donnel resolveram complicar as coisas.  —Lucila respondeu em tom cansado, tinha acabado de vir de uma reunião com dois irmãos que mandavam em uma pequena loja de construção que era suspeita de ter sido usada de base por alguns supers fugitivos. Ela sabia que isso era porque uma das passagens que levavam para a cidade subterrânea ficava naquela loja e queria proteger aquele rastro. Olhando para o pó perguntou — A construção já foi finalizada?

— Assim como o contrabando de uma centena de armas e equipamentos da Elite de Caça, temos tudo pronto para começar, chefe. — Ele disse rindo e apontou para a porta aberta, ela dava para uma escada que ia para baixo.

— Oficialmente você não pertence mais ao meu departamento, Lucas. — Lucas tinha pedido para ser um de seus agentes na AVIS, mas ela tinha preferido coloca-lo na parte administrativa para que ficasse de olho lá. Sabia que ele não ia aguentar muito tempo nessa função e já estava atrás de alguém para substituí-lo e coloca-lo na linha de frente.

— Se eu desse uma foda para burocracia eu me importava com isso. — Ele disse passando pela porta e descendo as escadas.

Lucila o seguiu dando uma pequena risada. A escada tinha seus bons dez metros e era bastante estreita, além de estar completamente suja de fuligem e pó. Chegou a um porão com as paredes de tijolos e as fiações à mostra, uma grande mesa com três computadores ligados um ao lado do outro e várias pastas e um alçapão fechado no chão. Lá dentro o rei e Baba Yaga a esperavam, o rei sentado em um banquinho e Baba Yaga de pé apoiada em uma parede carregando um maço de papéis.

— Boa noite, espero não ter adiado demais nossa reunião. — Lucila disse.

— Não muito, mas vamos ter que acelerar. — Baba Yaga respondeu e começou a distribuir para todos os presentes os papéis que tinha em mãos, Lucila os folheou rapidamente, eram alguns dos documentos antigos da Elite de Caça. — Se me permitem, eu gostaria de começar. Encontrei alguns nomes bastante interessantes na lista de investigados da Elite de Caça que poderíamos chamar para participar da AVIS ou para trabalhos não oficiais. Tem uma super que demoliu um prédio durante um combate... Parece que ela tem uma companheira hospitalizada, podemos usar isso para convoca-la. Também tem um casal que roubou um banco e participaram na luta contra o Gaia, um velocista e uma manipuladora de terra, podemos convoca-los em troca de perdão. Também temos um garoto com poder de teleportar objetos e um manipulador de vetores, ambos promoveram ataques contra a Elite de Caça e saíram vencedores. Eu iria primeiro atrás desses cinco.

— Para um primeiro momento é o bastante, vamos esperar as reformas nos subterrâneos estarem concluídas antes de começarmos o recrutamento de verdade. — O rei comentou lendo os papeis nas mãos dele. — Se possível eu gostaria de focar nos mais jovens, são os mais vulneráveis nesse momento. E se treinados desde cedo podem despertar poderes muito além do que nós possuímos.

— Alias, o que vocês fizeram com os gêmeos psíquicos? — Lucas questionou, curioso.

— Cumprindo uma missão que eu pedi. — Lucila respondeu — O que nos leva ao próximo tópico. Eles conseguiram confirmar a ligação entre a família Spanzia e a chefia da Elite de Caça, ao que parece eles estão dando suporte para a fuga dos membros da Elite, já parecem ter percebido nossas ações, acho que é hora de eliminar Spanzia e os majores que já confirmamos o nome.

— Não podemos ir tão rápido, as pessoas ainda não perceberam a ligação entre todas as mortes, mas vão perceber se formos óbvios demais. Temos que escolher apenas um deles para eliminar. — Baba Yaga retrucou.

— Então vai ser os Spanzia. — O rei comentou. — Grives não tem poder para fazer nada sozinho sem seus patrocinadores. Além disso, se existe uma morte que vá chamar a atenção é a do Grives.

— E o Arden? Aquela história dos agentes do FBI está esquisita demais. — Lembrou Lucas. O caso tinha chamado muita atenção e a AVIS estava tentando tomar o controle dele.

— Se ele está tramando algo é perigoso demais mandar algum dos novatos atrás dele. Eu posso cuidar disso pessoalmente. E depois nós vamos atrás do Gowbbs. — Lucila disse.

O rei suspirou, incomodado.

— Isso seria gritar para o mundo que a AVIS está caçando os remanescentes da Elite de Caça. Não podemos fazer isso agora, não antes de termos reunido poder o suficiente para enfrentar outros países. E no estado atual de ambos eles são facilmente monitoráveis e não podem liderar de verdade, ia ser um ataque desnecessário.

A conversa morreu, todos estavam sérios. O rei então se levantou e foi mexer em uma das pilhas de papéis em sua mesa.

— Continuando a reunião, esses são os relatórios sobre os principais investidores do partido PNV no período em que ainda era liderado por Gowbbs. A maioria dos nomes nós já imaginávamos que iam aparecer. Leclerc, Alonso, Spanzia, esses a gente pode riscar... Taylor, Underwood, Drummond, Moeraes, Baffara, Oakheld... E uma série de subsidiarias, filiais e representantes de conglomerados, esses foram as principais fontes de dinheiro para as campanhas chefiadas por Gowbbs.

— Comecemos com as filiais. Se fizermos direitos os processos vão escalonar sozinhos e destruir as matrizes. — Baba Yaga comentou e Lucas retrucou.

— Se tentarem isso contra todos de uma vez vão falhar miseravelmente, para os processos escalonarem desse jeito o poder dessas empresas vão ter que ter caído muito, o que não vai acontecer sem uma perseguição sistemática pra cima delas.

— A queda dos Spanzia enfraquece junto os Leclerc e os Moeraes, as três famílias se uniram em uma empresa maior faz uns cinco anos. Ouvi falar que os Alonso queriam entrar na área de construtoras também com uma parceira com um conglomerado chinês, isso vai nos impedir de simplesmente ir para cima dos Leclerc e Moeraes de uma única vez, seria abrir as portas para um monopólio dos Alonso. — O rei comentou mais para si mesmo que para o grupo, algo que simbolizava que seu pensamento já estava vários passos a frente e ele apenas os estava organizando.

— Drummond vai ser difícil, aquela senador da família está ficando cada vez mais poderoso. — Lucas disse com uma voz de desgosto.

— Você pareceu bem próximo ao senador Drummond naquela festa, Luci. — O rei falou.

— Uma negociata e nada mais. Eu disse que nossa relação era um gambito, e no final de todo gambito peças são sacrificadas. Mas talvez seja útil mantê-lo no poder, principalmente se o segredinho dele vazar para a imprensa de alguma forma. — Lucila respondeu.

Demoraram alguns segundos para os outros membros da reunião entenderem a indireta de Lucila.

— Que segr... Tá falando serio? — Baba Yaga quase gritou com as sobrancelhas levantadas e Lucila confirmou com um balançar de cabeça.

— Então temos uma carta contra os Drummond, mesmo que seja fraca. É uma forma de começar a ataca-los. Serão esses nossos três alvos: Spanzia, Leclerc e Drummond. Vou pedir para alguns jornalistas que eu conheço começarem uma investigação independente sobre o segredo do senador, assim quando usarmos essa informação ela será uma mão pelo menos e não só uma carta forte. — O rei disse dando aquele tópico por encerrado. — Com isso passamos por todos os tópicos de discussão de hoje.

— Como estão as reformas no subterrâneo?

Lucila perguntou enquanto ia em direção ao alçapão, fazia algumas semanas que não ia para os subterrâneos. O rei estava liderando uma grande reforma nos caminhos secretos que eles tinham criado, metade dos moradores da cidade subterrânea tinham voltado a suas antigas moradias ou ganhado uma nova do governo, mas outra metade ainda preferia esperar antes de se revelarem para o público, dar um local bom para eles ficarem por enquanto era a desculpa oficial da AVIS para investir nessas reformas. Não oficialmente eles estavam escondendo as armas da Elite de Caça, que oficialmente tinham sido descartadas e destruídas, e preparando uma série de instalações para realizar processos de engenharia reversa nelas.

— Já temos quase tudo pronto. Estou em contato com uma série de cientistas para virem trabalhar nos estudos com a sincroenergia, todos já estavam envolvidos desde antes com alguma forma de ativismo contra a caçada, alguns até contrabandeavam remédios capazes de esconder um super dos drones, então são confiáveis. Não são muitos, mas o bastante para fazer os laboratórios funcionarem.

— Laboratórios secretos no subterrâneo? Onde já vi isso? — Lucas ironizou

— Esse é o momento decisivo para o sucesso de nossa empreitada, se quisermos vencer nossos inimigos teremos que lutar com as armas deles, contatos, manipulação da mídia, segredos e mentiras. — Lucila disse com calma.

— Precisamos que mais do que isso Lucila, precisamos de poder político real e que esteja na nossa mão, é por isso que estamos aqui agora. — O rei disse a olhando nos olhos. —Enquanto controlar a AVIS você pode minar nossos oponentes e gerar um vácuo de poder, mas isso sozinho não é o suficiente, nós temos que dar um jeito de preencher essa vácuo de poder, nosso grupo precisa se expandir e entrar nesse jogo. Cada um de vocês será a linha de frente de uma de nossas forças. Nós devemos nos infiltrar em cada local que pudermos e unir os super e os apoiadores em uma única força, uma "nação soberana" preparada para qualquer combate, uma sociedade que vá além de fronteiras e jogos de poder levando um ideal e sendo reconhecidos por ele.

— Uma sociedade secreta, então qual seria nosso nome? —Baba Yaga disse achando graça.

— Nós somos as criaturas que vieram dos esgotos e vão espalhar pela sociedade as chagas da mudança, só existe um nome pelo qual podemos ser conhecidos. — O rei sorriu como se tivesse pensando em uma piada muito boa. — Plague Rats.

Lucila ignorou a conversa dos dois e abriu o alçapão revelando uma escada de mão que dava direto em um túnel, desceu para o caminho escuro e avançou, ainda se lembrava perfeitamente dos caminhos e duvidava que as reformas tivessem os mudado tanto ao ponto que não conseguisse se encontrar. Lucas desceu atrás dela e começou à seguir, Lucila queria ver com os próprios olhos como estavam as coisas lá embaixo, as novidades e talvez conversar com alguns dos moradores do local, ainda sentia que eles eram de certa forma a família que lhe tinha restado mesmo sabendo que isso era apenas uma ilusão.

Ouviu um barulho alto e o chão embaixo de si tremeu “Tem algo errado”. Ela saiu correndo pelos caminhos com Lucas a seguindo, os tremores e os barulhos ficavam cada vez mais altos, avançou o mais rápido que pode até chegar na entrada de uma das galerias escondidas, a maior de todas onde provavelmente os que não tinham saído estavam usando de morada. Ao entrar encontrou o ambiente completamente escuro, as paredes derrubadas por uma série de impactos e no ar o cheiro do sangue dominava.

Todos no subterrâneo estavam mortos.
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